GRAFITE É ARTE

A palavra Graffite vem do termo Arte Gráfica (xilogravura, Lithografia, Silk Screem, etc.) em um certo senso o Grafite tem conexão com aquilo que denominamos Outsider Art, e aqui falamos daqueles personagens que observam a vida do lado de fora do establishment, podendo usar suas “pixações” para clamar por seus direitos, protestar, questionar valores sociais, regras, etc. Muitas vezes o graffite nasce e prolifera guiado por dúvidas e incertezas daqueles que vivem excluído do sistema social, e no caso, estes “destribalizados” manifestam seus desejos, anceios, protestos, emfim por transformações das sociedades opressoras. Antes de ser cooptado pela idéia arte ele é um instrumento que o indivíduo oprimido lança mão para buscar liberdade, sonhar com a igualdade entre os seres humanos, quebrar pré-conceitos, propor imparcialidades e romper fronteiras. Ele mistura idéias e emoções no mesmo espaço, e é aí que o graffite penetra o mundo da arte, podendo tocar e ser compreendidos por postulados platônicos e aristotélicos. Despertam controvérsias costumeiras do mundo do pensamento e influencia o conceito visceral da arte viva. Indômito e ambíguo este legítimo movimento tribal move conceitos de indiferenças e violentas paixões antagônicas. O Graffite vem de tempos espilhiográficos, pois nos acompanham ainda do tempo que habitávamos as cavernas a mais de trinta mil anos e como é uma manifestação sociológica vai estar conosco enquanto houver vida humana materializada. Os críticos se dividem quanto à “ser ou não ser arte”, quanto ao Graffite ser ou não ser arte, eu não tenho dúvida que é arte do nosso tempo ou de qualquer tempo, é manifestação da vida contemporânea associado à vida urbana em sincronia com suas aspirações, desejos, medos, etc. Norman Mailer definiu o graffite como “uma rebelião tribal contra a opressora civilização industrial”, e aqui vale relembrar uma conhecida observação do teórico do Surrealismo André Breton que disse em 1924: “uma das funções da arte é: desarrumar o cotidiano, propor o insólito contra a rotina, retificar a lei e a ordem”, voi-lá o tributo do Graffite que busca humanizar, transformar a visão e conceito em torno de nossas vidas com ética (concepção aristotélica) e também a concepção estética (platônica). A arte sempre cultuou a autofagia para reintroduzir oxigênio novo em suas artérias, para renovar e continuar emocionando ela volta e sempre comunga com a expressão dos “outsiters” para redirecionar suas antenas e falar da vida com mais profundidade; a escultura primitiva africana germinou o cubismo com Picasso e mudou nossa maneira de sentir o mundo…, o Graffite hoje mais do que nunca traz de modo iconográfico algo visivelmente emocionante e enriquecedor às artes visuais enfatizando e até legitimando peripécias da combalida arte de nosso tempo. Tim Rollins classificou o Graffite como “Arte Radical e Ilegal”, porém essa classificação não diminui o valor intrínseco de nenhuma obra de arte, ela transcende ao conceito ilegal – este é um conceito social e político sujeito a interpretações e mudanças – hoje uma parcela do Graffite já pertence ao circuito comercial das galerias de arte, a primeira grande exposição de Graffite foi realizada em 1975 no “Artist Space” de Nova York com a apresentação de Peter Schjeldahl, mas sua consagração veio com a amostra New York/ New Wave organizado por Diego Cortez em 1981 no PS 1, um dos principais espaços de vanguarda de Nova York. Pouco depois Keith Haring e Jean Michel Basquiat dois dos grafiteiros do metrô nova-iorquino estavam presentes na maior exposição de Arte Contemporânea do mundo a Documenta de Kassel (Alemanha). O Graffite foi introduzido no Brasil por Alex Vallauri (que o conheci pessoalmente na abertura da exposição de Siron Franco em junho de 1986 na galeria de Arte “São Paulo” o qual me incentivou a fazer Graffite em Goiás) Vallauri começou grafitando figura lúdicas pelas ruas da capital paulista e cuminou com sua participação na bienal de São Paulo em 1985 com uma grafitagem bem-humorada intitulada “A Rainha do Frango Assado”. Em São Paulo tem protagonistas do Graffite com Waldemar Zaidler, Matuck e o grupo Tupinãodá entre outros. Em Goiás o Graffite começou a manifestar de maneira um pouco tímida pelas ruas de Inhumas através dos artistas componentes do “Grupo Goiás” Dijotio, Dipaiva, Luís Mauro e Nonatto Coelho em 1985 através de spray e stêncil com figuras monocromáticas. Porém foi a partir de 1988 que eu e Edney Antunes fundamos o grupo “Pincel Atômico” e disseminamos o Graffite pelas ruas de Goiânia, Inhumas, Uberaba e São Paulo. Somos também responsáveis pela introdução do Graffite no circuito de galerias de arte pelo estado de Goiás, isto porque antes de começarmos com o Graffite já éramos artistas plásticos. O grupo “Pincel Atômico” criado a partir do acidente Radiológico em Goiânia em 1988 foi disperso em 1991 quando Edney Antunes e Eu ganhamos o prêmio de viajem a Paris na Bienal de Artes de Goiás daquele ano e seguimos direções diferentes, porém continuei a grafitar nas ruas de Atenas, onde participei da introdução do Graffite na Capital grega através de um programa de televisão bem popular na Grécia chamado “Proinós Café”, também grafitei na Ilha de Rhodes e no Deserto de Negev em Israel. Hoje grande parte do Graffite tem suas ramificações no mercado de “comodites” aí ele se influencia pelo mundo fáustico do bem-estar e perde sua virulência essencial. O Graffite pode ser dividido em arte e pichações, porém conceitos e definições jamais vão inibir este legítimo movimento de expressão de massa, primitivo e humano.

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Nonatto Coelho

Inhumas, 02 de maio de 2007

~ por nonatto coelho em abril 15, 2011.

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